Viagem de além-mar
Quando o Zé falou que essa viagem tinha de ter uma resenha, fiquei a ruminar. Como seria capaz de historiar uma viagem algo brancaleone. Uma viagem cujo mote era uma partida de futebol entre outonais brasileiros, nós, e os portugueses do Antonio. Só mesmo os atemporais do Dubinha, mais conhecido como a Terra do Nunca, os ageless para tal alegoria.
A viagem começa com uma falseta da TAP, que transfere o embarque para o dia seguinte em cima da hora. Ducha fria maior não precisava! Mesmo assim a moçada já tinha pulado do morro e encarou numa boa. Não sem sofrer a gozação da turma do Gil que tinha viajado em outro voo. Essa turma fez uma volta ao mundo mas chegou primeiro.
Finalmente, no dia seguinte, viajamos de ônibus para o Recife onde embarcamos as 14:50 horas do dia 13/06/2012 para as terras lusitanas, especificamente a cidade Lisboa. Viagem tranquila, embora a minha consorte tenha procurado ajuda com pílulas de lecsotan.
Chegamos na madrugada do dia seguinte e fomos direto para o Eduardo VII. Todos estávamos vencidos pela epopeia.
No café desta mesma manhã todos se encontraram. Começou de fato o périplo lusitano. O Presida Zé Humberto, intimorato como sempre, tratou de improvisar um programa de atividades para a nova realidade posta. O embate futebolístico com os portugueses foi transferido para a sexta-feira, dia 15/06/12, e nesse intermezzo algo deveria ser feito. De consenso fomos conhecer Sintra, com almoço intermediário para comer bacalhau. Tudo primoroso, a cidade e o almoço.
Na viagem de autocarro para Sintra todo o grupo foi quebrando o gelo. Numa atuação solo, o companheiro Padilha, juntamente com o seu parceiro Gil Messi, exuberou num Stand UP hilariante. O mais divertido era sua performance como personagem de Moliére, o Avarento, papel digno de uma Palma de Ouro, em Cannes, na Riviera francesa. Padilha comoveu a todos quando relembrou sua iniciação no Dubinha. Apresentado por Gil Messi, Padilha ao chegar teve quase uma síncope, lembranças de possíveis insinuações de amolestamento face a sua pouca idade. O Padilha deixava transparecer sua inquietude com a dualidade pecuniária Real / Euro. Deixou claro que essa experiencia iria levá-lo ao somiê do analista. Com o Padilha e o Gil Messi vieram também o casal Fernando e Lena.
Gil Messi, embora rigorosamente monitorado pela cônjuge Rose, foi, aos poucos, soltando as amarras e deixando fluir sua verve corrosiva sem nenhum pudor. Ninguém escapou. Mas a maior performance foi quando baixou o personagem “Comandante de Avião”, uma atuação digna de ator premiado.
No grupo havia, também, quatro solteiros, eram eles: Ivo Pepe, Paulo Volney, Charles Giovanni e Sebastian Romanel, todos deveras comportados. Menos por índole, mais por absoluta ausência de cachopas interessantes. Também fez parte do grupo o Ferreira e a sua mulher Cleofas. O Ferreira sempre tranquilo.
O Juca Carvalho, algo noviço na turma, que veio com Ana, sua consorte, recém egresso de uma temporada na Rússia, onde foi melhorar a sua capacidade de comover as massas foi eleito o nosso socialista predileto também serviu de guia, em terras espanholas, para o Padilha e o Gil. Juca, versado no Google, desvendou todos os segredos das ruas de Lisboa. Ele porém jamais conseguiu achar o hotel, fazendo o pessoal rodar a esmo. Presunçosamente Padilha, Juca e Gil não ouviram as sugestões do Fernando que resolveu seguir os seus próprios caminhos e foi em frente. Juca e patota, depois de muito caminhar em vão finalmente encontraram o Eduardo VII. O casal Fernando e Lena lá estavam confortavelmente, a horas, bebericando vinho do Porto. Os moçoilos ficaram pasmos com a versão sommeliers do Juca, quando o socialista debulhou todo o seu vasto conhecimento sobre os vinhos espanhóis. Padilha, embevecido, comprou três caixas de Pata Negra. Gil Messi também entrou na dança. Escusado dizer que o arrependimento assombrou Padilha o resto da viagem.
O companheiro Marços Gomes trouxe a claque particular, cuja composição era além da sua consorte o sogro e a sogra. Pelo visto não adiantou muito.
Na sexta-feira, dia do embate futebolístico, o lado religioso da turma impôs sua vontade e fomos todos para Fátima. Sem dúvida alguma, um lugar sereno que exala uma paz interior comovente.
Depois de Fátima fomos conhecer uma vinícola, um momento interessante para se começar a entender a alma do povo Português. Temos muito o que aprender com os nossos patrícios. Mais uma vez o almoço foi estonteante e a moçada não deixou por menos foi à larga.
Voltamos para Lisboa para nos prepararmos para o embate Brasil / Portugal. Os atletas outonais do Dubinha estavam algo alquebrados em razão das diversas atividades sociais e não contavam com que teriam de enfrentar uma equipe lusitana algo primaveril. A média de idade dos portugueses era 15 anos mais nova que a nossa. O resultado foi uma derrota de 4x1 para o nosso desadorou.
Não imaginem que esse percalço irá arrefecer o apreço e o encantamento que cultivamos pelo futebol. Nós ageless, os momentâneos moradores da Terra do Nunca jamais subverteremos esse sonho.
Ao voltarmos do jogo, alguns de nós fomos diretamente para um bar vizinho ao Hotel, para olvidar o resultado da peleja. Afinal a vida continua e a cerveja estava gelada. Ficamos até terminar o expediente do bar.
Cheguei furtivamente ao quarto, minha consorte nem soslaio deu.
Ao acordar, Maria, a minha consorte, com um ar levemente irônico, perguntou qual o resultado do jogo. Balbuciei o percalço visivelmente rabugento. E encerrei o assunto.
A cidade do Porto era nosso próximo destino, talvez para espairecer a performance futebolista da noite anterior, quem sabe!
Foi, sem dúvida uma decisão acertada, ainda mais pela sábia opção da passadinha rápida por Coimbra. Visitar a universidade de Coimbra foi um encantamento só, e perceber toda a liturgia dos comportamentos naquele lugar faz ruminar um monte de coisas.
O almoço foi num lugar paradisíaco, na ribeira de um rio que não recordo o nome, os rastaqueras não sabiam o que fazer. Registre-se, entretanto, que ao comprarmos picolé a vendedora, embora solícita e gentio, não era chegado ao banho nem ao cosmético.
No Porto fomos para o hotel, trocamos de roupa e fomos bater pernas nas cercanias da ribeira do Douro. Não resistir a um panamá vermelho. Nem a minha consorte.
Ficamos todos na ribeira olhando o tempo passar sem pressa, logo alguém esfomeado falou em jantar. Escolhido um lugar charmoso, o farnel correu solto. Em alguns casos acompanhado de vinho, com regência da moçada do jet.
Voltamos para o hotel já quase madrugada, andando pelas ruas ladeiradas da cidade do Porto, uma forma de melhor conhecer o local.
Na manhã seguinte, domingo, fizemos um tour pela cidade e fomos para ÓBIDOS, secular cidade portuguesa com suas muralhas e castelos. Mais um almoço primoroso.
Voltamos à Lisboa em tempo de assistir Portugal versus Holanda, pela Eurocopa. Portugal venceu. Um barulho infernal varou a madrugada inteira.
Era segunda-feira, dia 18/06, último da nossa estada. O vírus do consumo conduziu todo mundo para o Outlet. Padilha se desesperou quando Vera, sua esposa resolveu usar os euros. A Rose do Gil Messi esbaldou-se em compras, tantas que perdeu o auto-carro.
À noite, um grupo resolveu flanar pelas ruas de Lisboa, passo a passo acabou no Rossio, mais precisamente no Café Nicola. Neste grupo, formado a revelia, estavam Zé Humberto e Marta, Tonico e Maria e os moçoilos Ivo, Gil Messi e Paulo Volney. O Ivo foi o responsável pela indicação do Nicola. A Maria, minha consorte tinha aniversariado no dia anterior. Marta do Zé Humberto fez todo o salamaleque e comemoramos todos juntos. De repente Maria resolveu demonstrar todo o seu dote cantante. O garçom, brasileiro chamado Gil, duble de cantor, juntou ao grupo e todos curtiram a última noite lusitana com glamour. O tour foi de 5 km ida e volta, mas valeu a pena.
Ao chegarmos ao aeroporto já tínhamos esquecido da TAP, doce inocência, o voo para Recife atrasou 7 horas. Nada que tirasse o nosso bom humor.
Maceió, 22 de junho de 2012
Tonico